O Alto do Moura é um bairro de Caruaru, município do agreste pernambucano, onde se concentra uma comunidade de artistas do artesanato do barro.

Antes do século XVI, a região fazia parte de um território compreendido entre a Bahia e o Maranhão, habitado pelos índios Kariris, que possuiam uma produção de cerâmica de barro rústica, sem um estilo definido ou decoração. Fazendo-se uma comparação da cerâmica utilitária produzida pelos loucerios de barro da região, até a metade do século XX, nota-se que há uma grande influência da cultura indígena, assim como a existência também de algumas práticas introduzidas pelos negros e pelos portugueses.
Antigamente, a confecção de potes, jarras, moringas (chamadas no Nordeste de quartinhas) e outros utensílios domésticos era uma tarefa restrita às mulheres e às crianças. As técnicas utilizadas por elas eram muito semelhantes a dos indígenas e a tradição era transmitida de mãe para filha nas atividades domésticas.
Com o progresso e o desenvolvimento urbano, durante a primeira metade do século XX, a produção se transformou, cada vez mais, numa fonte de renda auxiliar para a subsistência da famlias da zona rural.
Um dos principais fatores para o aumento da produção de cerâmica de barro na região foi a existência da Feira de Caruaru, onde se poderia comercializar os objetos confeccionados com mais facilidade.
Mesmo assim, até o final da década de 1940, a economia do Alto do Moura dependia basicamente da agricultura de subsistência familiar, com pequenas culturas de milhoe mandioca.
A partir da ida de Vitalino para o local, em 1948, houve uma nova perspectiva para a comunidade. A fama nacional do Mestre contribuiu para facilitar a comercialização das peças, tornando-se uma atividade lucrativa. O trabalho deixou então de ser unicamente feminino, passando os homens a aderir à prática da cerâmica figurativa de barro.
No Alto do Moura, os artistas trabalham nas suas casas, modelando o barro e criando diversos objetos e figuras de todos os tipos. Suas casas são verdadeiros ateliês onde, além de criar, eles vendem o produto do seu trabalho. Os temas básicos dos artesãos são motivos folclóricos e que retratam o cotidiano do homem sertanejo: o bumba-meu-boi, o maracatu, as bandas de pífano, os retirantes da seca, o cangaçoe os cangaceiros, principalmente os famosos Lampião e Maria Bonita, o vaqueiro, avaquejada, o casamento e o enterro na zona rural.
Em 1971, a casa onde viveu Vitalino Pereira dos Santos (1909-1963) foi transformada na Casa Museu Mestre Vitalino. No local, são expostos suas principais peças, objetos pessoais, fotografias, mostrando um pouco da história do famoso artesão caruaruense. Construída em 1959, a casa sofreu alguns reparos para se transformar em museu, mas conservou a estrutura original em tijolo cru. Estima-se a produção original de Vitalino em cerca de 130 peças, que continuam sendo reproduzidas por seus filhos, netos e bisnetos. As peças mais valorizadas são as da primeira fase de sua obra, cujos bonecos têm os olhos vazados e não pintados. Na Casa Museu a entrada é gratuita. Um dos filhos de Vitalino é o guia e também o administrador do museu.
Fica também localizada no Alto do Moura a Casa Museu Mestre Galdino, que abriga diversas peças de barro, fotografias e poesias, que mostram a história do artesão, cantador de viola e poeta popular Manuel Galdino de Freitas (1929-1996).
Um dos seguidores de Vitalino, Manuel Eudócio – agraciado em 2009 com o título dePatrimônio Vivo de Pernambuco – é um dos famosos bonequeiros do Alto do Moura, assim como seu cunhado, Zé Caboclo (José Antonio da Silva, 1921-1973) também o foi.
Em 1990, a comunidade já contava com mais de quinhentos artesãos trabalhando diretamente com a cerâmica figurativa.
Além do artesanato do barro, o Alto do Moura possui bares e restaurantes especializados na culinária pernambucana, principalmente em pratos feitos com a carne de bode, muito apreciada na região. Contribui ainda para abrilhantar o São João de Caruaru, com um dos mais animados polos da festa junina.
Recife, 28 de janeiro de 2011.
FONTES CONSULTADAS:
ALTO do Moura une artesanato, gastronomia e forró. Disponível em: <http://www.viajandaunblog.pop.com.br/post/2358/alto-do-moura-une-artesanato-gastronomia-e-forro>. Acesso em: 21 jan. 2010.
ALTO do Moura (foto neste texto). Disponível em: <http://www.ceramicanorio.com/artepopular/caruaru/caruaru.htm>. Acesso em: 28 jan. 2011.
CORREIA, Sara. Delicadeza da arte figurativa. Continente Multicultural, Recife, ano 6, n. 61, p. 94-95, jan. 2006.
LIMA, Sandra. Invenção e tradição: uma trajetória de resistência pelo espaço da memória. Resgate, Campinas, SP, n. 13, p. 135-152, 2004.
MESTRE Vitalino e outros, Caruaru/Alto do Moura - PE. Disponível em: <http://www.ceramicanorio.com/artepopular/caruaru/caruaru.htm>. Acesso em: 21 jan. 2011.
COMO CITAR ESTE TEXTO:
GASPAR, Lúcia. Alto do Moura, Caruaru, Pernambuco. Pesquisa Escolar Online. Fundação Joaquim Nabuco. Recife. Disponível em:http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar. Acesso em: dia mês ano. Ex.: 6 ago. 2009
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